Logo na primeira feira agrícola do ano, no Show Rural Coopavel, o setor de máquinas e implementos agrícolas já demonstrou preocupação em relação ao volume de recursos disponível no Moderfrota – considerada hoje a linha de crédito mais atrativa para os grandes produtores.
Pelo cálculo das fabricantes, o dinheiro restante para o primeiro semestre do ano deverá acabar antes de abril, freando os negócios a partir de então. A disponibilidade de crédito é considerada crucial para aliviar a crise do setor, minado pela baixa confiança do produtor rural em investir.
Depois de fechar o ano com queda superior a 30% nas vendas, na comparação com 2014, o setor de máquinas agrícolas começou 2016 com novo tombo. O resultado de janeiro foi 53,2% inferior ao mesmo período do ano passado, conforme dados divulgados na semana passada pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Com o fim do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) em dezembro de 2015 e o Finame Agrícola, pela Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), redefinido a cada três meses, todas as esperanças de reaquecer o setor estão depositadas no Moderfrota – por anos deixado de lado pelos bancos. Com R$ 3,4 bilhões do Plano Safra 2015/2016, estão disponíveis somente R$ 1,5 bilhão até junho, conforme o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
– Esse valor é insuficiente. Já pedimos suplementação ao governo – adianta Pedro Estevão Bastos, presidente da Câmara Setorial de Máquinas Agrícolas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).
Menos dinheiro
No plano safra 2014/2015, por exemplo, somente o PSI somou R$ 6,7 bilhões em crédito para máquinas e equipamentos agrícolas. Caso os recursos de agora não sejam ampliados, Bastos prevê uma queda ainda maior do setor ao longo de 2016.
Sem financiamento, dificilmente o produtor irá se encorajar a investir em um período de instabilidade política como esse – completa Bastos, que é também diretor de Desenvolvimento e Novos Negócios da Jacto.
A disponibilidade de recursos dentro do Moderfrota foi um dos principais argumentos de venda durante a Show Rural Coopavel, realizada na semana passada em Cascavel (PR), no oeste paranaense. Pelos cálculos de João Carlos Marchesan, vice-presidente da Abimaq, o montante acabará antes da Tecnoshow, que será realizada em abril, em Rio Verde (GO).
– Precisamos no mínimo do mesmo valor liberado no primeiro semestre de 2014. Se o montante for o mesmo do ano passado, teremos nova queda – prevê Marchesan, diretor-superintendente da Tatu Marchesan.
Receio de aumento de juro
O presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas no Rio Grande do Sul (Simers), Claudio Bier, observa que, enquanto há escassez de recursos do Moderfrota, os produtores estão reticentes em tomar crédito corrigido pela Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) devido à possibilidade de serem surpreendidos por uma grande variação do indexador.
– O agricultor está acostumado a correr uma série de riscos de seca, chuva, pragas e preços, mas não quer pegar esse dinheiro a taxa variável – afirma Bier, lembrando que o temor seria uma frustração de safra agrícola associada a uma alta de juros.
Desde o começo do ano, o Finame Agrícola passou a ter juro fixado pela TJLP, redefinido a cada três meses. Na tentativa de reverter a situação, o Simers busca uma audiência após o Carnaval com a Casa Civil da Presidência da República, em Brasília, para sensibilizar o governo federal a alterar as condições do crédito rural.
Na conjuntura atual, a venda de máquinas tende a cair ainda mais, prevê o dirigente, amparado em conversas tanto com fabricantes quanto com líderes de entidades rurais.
Investimento somente por necessidade
Prevendo dificuldades de crédito agrícola, indústrias estão buscando alternativas para garantir negócios – por meio de bancos de fábricas, consórcio e barter. As estratégias de vendas estão ancoradas em uma nova safra recorde de grãos, estimada em 210,3 milhões de toneladas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), e na necessidade de o produtor renovar a frota.
Do município de Mercedes, no oeste paranaense, Silvio Ballmann não conta com financiamento para investir. O agricultor prefere fazer os investimentos quando tem necessidade e dinheiro para pagar à vista.
– Fiz assim com a plantadeira, com o trator e a colheitadeira. Não gosto de ficar com dívidas – lembra Ballmann, 67 anos, que planta pouco mais de cem hectares de soja e de milho.
O próximo equipamento a ser trocado é o pulverizador. No Show Rural Coopavel, o produtor namorou um modelo com capacidade para 2,5 mil litros.
– Estou precisando, pretendo comprar até o fim do ano – disse.