Na contramão de um cenário econômico retraído e que acumula desligamentos e reduções de jornada na indústria caxiense, empresas de consórcios vibram com o crescimento de 16%, em 2015, na Serra Gaúcha - superando o índice brasileiro de 13,9%. O segmento de imóveis desponta na lista de vendas. Segundo a Associação Brasileira de Administradoras de Comércio (Abac), os negócios imobiliários fechados via consórcio e a previsão é manter esse crescimento em 2016.
Esta modalidade de aquisição se mostra eficaz principalmente para os que não têm muita pressa em adquirir um bem, já que para ter direito ao prêmio, é preciso ser contemplado por sorteio ou oferta de lances - o que não garante a aquisição imediata, que depende do maior lance. O setor de consórcios se firma diante de um cenário econômico difícil, com taxas de juros para financiamentos elevadas e também aumento das restrições para o crédito nos bancos, informa o diretor da Abac em Caxias do Sul, Augusto Giongo Letti.
— Antigamente, o perfil de quem aderia era pessoas movidas pela emoção. Hoje, é alguém que já analisou outras possibilidades e opta por uma atitude de educação financeira, entendo as dificuldades do mercado — afirma Letti.
Este planejamento financeiro é apontado por Letti como uma das consequências positivas do negócio. A maior parte do público que tem adquirido consórcio imobiliário utiliza a modalidade como uma espécie de carta de crédito, ou seja, adquire parte do valor que precisa para troca de um bem via consórcio. A vantagem? Taxa de juros mais baixa e parcelamentos ampliados. O prazo de pagamento de um imóvel é de até 180 meses, mas pode variar, explica Letti:
— Não tem limitação legal, depende da oferta do grupo do consórcio.
Caxias do Sul conta com uma administradora de consórcio, a Racon, e pelo menos 10 revendas da modalidade, de diferentes marcas. A Racon é do Grupo Randon e avalia que a Serra Gaúcha é responsável por pelo menos 19% das vendas da administradora, que atua hoje em 140 pontos de venda no país - 40 a mais que em 2014. Com taxa média de 1,3% de juros ao ano, o caxiense tem usado a carta de crédito como moeda de troca para trocar de apartamento ou ampliar a casa, diz o gerente comercial e marketing Cleber Sanguanini.
— A restrição de crédito está cada vez maior e o consórcio serve como uma carta de crédito para reformar, ampliar, ou adquirir um terreno. É uma aquisição inteligente, com juros inferiores e flexibilidade no pagamento — explica.
Contemplado um ano depois
Ser contemplado é o desejo de qualquer beneficiado que entra no consórcio - e alcançar o valor que deseja com juros baixos é melhor ainda. Quando o técnico em radiologia Odirlei Salvador, 34 anos, decidiu empreender, sabia que enfrentaria dificuldades para financiar parte do valor da obra, mas não imaginaria que o consórcio seria a melhor escolha. Salvador construiu um ginásio de esportes no interior de Flores da Cunha, com infraestrutura completa: vestiários, quadra, redes, bancos. Para obter dinheiro suficiente para cerca de 40% do preço total da obra, procurou outras linhas de crédito e financiamentos, mas encontrou sonoros "não" porque o valor era alto demais.
— Uma amiga me recomendou fazer consórcio e o pessoal da agência me disse que era viável — conta Salvador.
A obra custou R$ 1,5 milhão e Odirlei foi contemplado cerca de um ano após começar a pagar as pouco mais de 100 parcelas. Com o ginásio pronto, o agora empreendedor avalia o consórcio como uma forma positiva quando há planejamento financeiro, já que ele sabia que poderia ser contemplado só no final das prestações.
— Eu recomendo porque resolveu meu problema. Está cada vez mais difícil dos bancos liberarem crédito — avalia.
Carros crescem 10%
Consórcios de carros e motos também estão na lista de segmentos em crescimento. No ano passado, o setor aumentou em 10% o número de vendas, conforme aponta a empresa Serrana Consórcios, que atua exclusivamente na Serra Gaúcha e somente com este tipo de consórcio. Com prestações que podem variar de R$ 100 a R$ 2 mil mensais, clientes se interessam principalmente no negócio para a troca do carro. Por isso, o valor que mais costuma ser aderido gira em torno de R$ 25 a 30 mil. O prazo para pagamento é tentador: pode levar até 60 meses, segundo o diretor da empresa, Daniel Fochesatto
— Em tempo de recessão econômica, a ideia de parcelar em valores mais leves se torna ainda mais atraente — afirma.
E o valor médio de R$ 25 a 30 mil é estratégico:
— Um carro de alto padrão não se compra com R$ 30 mil, mas acrescentando este valor a um carro já quitado, consegue subir de nível.