Após tomar a iniciativa de importar milho da Argentina para suprir as dificuldades no mercado brasileiro, agroindústrias de aves e suínos buscam ainda outras alternativas que possam evitar uma baixa oferta do grão na próxima safra e novos picos nos custos de produção. Na semana passada, dez navios foram embarcados no país vizinho para abastecer unidades de produção, especialmente da Região Sul.
Diretor executivo do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do Estado do Rio Grande do Sul (Sips), Rogério Kerber conta que outro caminho possível seria a compra do grão do Paraguai.
– Teria que ser calculado o impacto disso no preço final para saber se vale a pena. No Rio Grande do Sul o custo logístico pesaria duas vezes: trazendo o milho de lá para cá e depois levando a carne abatida aqui para o centro do país, onde é vendida – afirma Kerber.
Logística cara na importação
Diretor do Frigorífico Majestade, em Sananduva, Egidio Loregian, acrescenta que caso a solução seja a importação, o ideal seria encontrar meio de transporte mais barato que o rodoviário, atualmente utilizado, o mais custoso entre os modais. Outra opção, sugere, seria utilizar a liberação do crédito rural para estimular uma produção mínima de milho em cada propriedade e assim garantir oferta razoável de milho no país.
– Poderia ser liberado sob a condição do agricultor manter dois terços da área com soja e pelo menos um terço para o milho, por exemplo. Os percentuais podem variar, mas é uma alternativa – diz.
Também com a atividade da criação de aves, a Cosulati tem tido problemas em manter as portas da unidade de aves, em Morro Redondo, abertas. O preço alto do milho é uma dificuldade extra para a cooperativa da Metade Sul encontrar algum interessado em se associar ao frigorífico – de onde vem cerca de 17% do faturamento total.
Gestor-adjunto da Cosulati, Jones Raguvoni, garante que não existe crise na área do leite, mas reforça a necessidade de ser encontrada uma solução para oferta de milho:
– Em situação como essa o Ministério da Agricultura precisa ter uma atuação maior, evitando a perda de competitividade das empresas do setor que, no limite, prejudica trabalhadores e consumidores.
Em busca do ponto de equilíbrio
O risco de não ser encontrada uma solução para o preço alto do milho no médio prazo é a fuga de agroindústrias situadas no Rio Grande do Sul para outras regiões do Brasil em busca de redução de custos e competitividade logística. O alerta é de José Eduardo dos Santos, secretário-executivo da Asgav. O dirigente reconhece, no entanto, que encontrar um ponto de equilíbrio para o valor da saca de milho neste momento de retração no mercado doméstico depende de todos na cadeia produtiva.
– O setor também precisa se conscientizar que não pode pagar tão pouco para o produtor de milho sob pena de desestimular a produção. Foi o que vimos neste ano – pondera o secretário-executivo da Asgav.
Valdecir Folador, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), participou de encontro no Ministério da Agricultura para solicitar o aumento da disponibilidade de milho na venda a balcão para produtores. Segundo o dirigente gaúcho, o limite de 6 mil quilos por mês não seria suficiente. O setor pleiteou a liberação de 20 a 25 toneladas ao mês, de acordo com a necessidade dos produtores.