Apesar do agronegócio ser o único setor que segue apresentando alta no Produto Interno Bruto (PIB), não faltam desafios para os produtores superarem diariamente. Condições climáticas adversas, preço dos insumos e consumidor cada vez mais exigente são alguns dos fatores que colocam em risco a sobrevivência de alguns empreendimentos do segmento. Para discutir formas de trazer inovação e sustentabilidade para as lavouras, produtores se reuniram no Encontro Produtor durante a feira Envase Brasil/Brasil Alimenta, em Bento Gonçalves.
A dependência dos fertilizantes importados foi citada como uma ameaça real à sustentabilidade do agronegócio brasileiro. Segundo Ernesto Carlos Kasper, agricultor sócio-fundador da cooperativa Ecocitrus, o país produz apenas 2% dos compostos químicos utilizados na agricultura mundial, ao mesmo tempo que figura entre os maiores consumidores de fertilizantes.
— Não é sustentável importar tantos insumos. Temos que pensar em alternativas para fugir dessa dependência, como recuperar o uso de fertilizantes naturais — explica.
A Ecocitrus, cooperativa que reúne cerca de 100 associados, é responsável por uma usina de compostagem no Vale do Caí que recebe 144 mil toneladas por ano de resíduos que são transformados em insumos. A unidade também conta com produção de biogás, que é utilizado em carros e em outros veículos.
— Todos falam que a gasolina está cara, mas isso não nos preocupa porque usamos o biogás. Isso é empoderamento da cadeia produtiva — ensina Kasper.
Aposta na criatividade
A criatividade é outra forma de gerar mais faturamento para as vendas do agronegócio. Segundo Ricardo Antônio Rotta, diretor da H2Orta, explorar todos os sentidos do consumidor se revelou uma estratégia eficiente de comercialização.
— Fizemos uma pesquisa e percebemos que muita gente cheira a salada antes de comprar. Isso foi um problema inicialmente, porque a alface, por exemplo, não tem cheiro. Criamos então um mix de folhas, incluindo folhas de alface, beterraba e manjericão. Vende muito, porque o mix é visualmente bonito e trabalha o olfato — revela Rotta.
Outra dica do diretor é apostar em aspectos emocionais nas vendas. O agrião Achylles e a mini rúcula Polônia — ambos homenagens aos nomes dos avós de Rotta — são destaque em comercializações na H2Orta:
— A criatividade é essencial. Não importa se você vende um cachorro-quente ou salada, o teu produto precisa ser diferente do que o do seu vizinho — resume.
Mercado orgânico desponta
Com aumento de 600% nos últimos cinco anos, o mercado de orgânicos desponta. As projeções também são animadoras, já que o consumo saudável não mostra tendência nenhuma de queda. O segmento, então, deve ser a aposta para os produtores? Depende:
— Não é fácil. Se fosse fácil, todo mundo faria. Mas não é impossível, tem que acreditar e ter dedicação — ressalta Jorge Mariani, presidente da Cooperativa de Produtores Ecologistas de Garibaldi, que conta com 53 associados.
A qualificação é o principal diferencial:
— Não tem manual pronto. É uma constante troca de conhecimento que vem levando a uma grande evolução.
A evolução citada pelo produtor reside principalmente na aparência. Segundo Mariani, dizer que a produção orgânica é "feia", hoje, não passa de um mito:
— Vendemos pra grandes redes, como o Zaffari, que não aceita nada que não for de boa aparência. Estamos no mesmo patamar de cor, tamanho, tudo. E isso é muito determinante para o crescimento, porque o mercado compra pelos olhos. Precisa apresentar bem seu alimento.