Enquanto algumas escolas padecem com a carência de recursos e gestão deficiente, outras conseguem ser autossuficientes ao ponto de gerarem recursos excedentes para reinvestir. Um dos exemplos de êxito vem da região do Planalto Médio, mais especificamente de Carazinho.
Com 240 hectares de área, a Escola Estadual de Educação Profissional de Carazinho (Eeprocar) gerou ano passado um faturamento superior a R$ 1,1 milhão. Na safra de verão recém encerrada, plantou 150 hectares de soja, com uma produtividade de 70 sacas por hectare, 47% acima da média do Estado. No milho, o rendimento chegou a 150 sacas, também 25% superior à média de produtividade do Rio Grande do Sul. A produção é comercializada via Círculo de Pais e Mestres (CPM). No inverno, a escola usa a área para culturas voltadas à produção de feno e aveia.
A principal fonte de renda mensal é o leite. O rebanho chega a 70 animais. Trinta vacas estão em lactação. Da produção, 15% é usado para consumo interno, parte transformado em derivados como queijo e doce de leite na própria Eeprocar. O excedente é vendido para a Nestlé, o que gera uma receita bruta de R$ 13 mil a R$ 14 mil por mês.
Os alunos também são alimentados pelos ovos produzidos pelas cerca de 200 galinhas de postura. Na suinocultura, são 10 matrizes e sempre há de 40 a 50 animais na terminação.
— Nas escolas que estão bem, isso se deve a fatores locais, como empreendedorismo das pessoas, gestão, ou pelas condições do meio onde estão inseridas — entende Fritz Roloff, presidente da Associação Gaúcha de Professores Técnicos de Ensino Agrícola (Agptea).
O diretor da escola, Celito Lorenzi, conta que o dinheiro repassado pelo Estado, além dos constantes atrasos, seria insuficiente para cobrir os custos.
A verba mensal é de R$ 5,6 mil, mas só de alimentação o gasto chega a R$ 25 mil. Incluindo outras necessidades, desde material de expediente a óleo diesel a ração, sobre para R$ 50 mil. Para itens permanentes, o repasse mensal é de R$ 1,8 mil.
— Montamos uma estrutura de produção que também é didática. Fazemos render, com retorno financeiro. Temos pessoas qualificadas aqui dentro. A maioria tem especialização — conta o diretor.
Lorenzi admite que a escola recebeu alguns equipamentos do governo do Estado, mas os investimentos mais pesados são feitos graças aos recursos produzidos pela lavoura e a produção animal da Eeprocar. Este ano, por exemplo, foi adquirida uma semeadora de inverno por R$ 44 mil. Quatro anos atrás, foi possível comprar uma colheitadeira usada pelo valor de R$ 160 mil.
Prestes a completar 40 anos, a Eeprocar conta hoje com 236 alunos. Em 2010, era apenas 80, conta Lorenzi. Do total, 198 são internos. O perfil dos alunos também passou por uma mudança. Antes, a maioria era de jovens que buscavam a formação em técnico em agropecuária para conseguir emprego. Agora, nota o diretor, predominam estudantes que se aperfeiçoam para depois retornarem à propriedade da família, qualificando o processo de sucessão no campo.