Em meio à crise, o dia dos namorados deve ser de vendas menores para o comércio neste ano, conforme pesquisas divulgadas por várias entidades de comércio nos últimos dias. Dados apontam, além da queda na intenção de presentear, um aumento do interesse por produtos de menor valor para quem não quer deixar a data passar em branco.
Juliane Morganti vai comemorar a data pela terceira vez com o namorado, Bruno Albuquerque, mas neste ano será diferente. “No primeiro nos demos roupas de marca, no segundo saímos para jantar em um restaurante bacana com trocas de presentes. Agora neste ano não faremos nada. Entramos neste acordo: nada de gastos”, diz ela. “Resolvemos então sair para jantar em algum lugar que não seja muito caro, só para não passar a data em branco.”
Priscila Santana Amad e Lucas Alonso Huamani, que vão passar a data juntos pela quinta vez, sempre trocaram “combos” de presentes. Neste ano, o combinado é outro. “Geralmente trocamos ‘combos’ de presentes. Uma vez dei uma Caixa dos 5 sentidos: um porta-retrato com uma foto nossa (visão), dois blu-rays do AC/DC (audição), chocolates (paladar), um travesseiro de corpo (tato) e uma fronha perfumada (olfato) escrito ‘tem coisas que até no escuro podemos ver. Amo você’. Outros presentes foram pelúcias, camisetas, bijouterias, DVDs. Neste ano, o jeito é optar por presentes no estilo ‘faça você mesmo’ para não gastar muito”, diz Priscila.
Ela conta que o plano para este ano é preparar “um almoço ou jantar para comemorar”. “Se os preços não estivessem tão altos, eu poderia pensar em algum outro presente. Talvez algum jogo novo de computador e uma camiseta. Mas, por exemplo, uma loja de camisetas mais alternativas que eu já havia comprado por R$ 40 anteriormente está cobrando R$ 70 em cada peça”, reclama.
Fabio Bentes, economista da CNC, destaca que a tendência é que os casais reduzam o valor dos presentes escolhidos. “Em ano em que o consumidor passa por dificuldades, é comum recorrer àquela lembrancinha em lojas de vestuário ou até perfumaria”, afirma.
“Muitas pessoas que deram presente no ano passado não vão dar neste, mas uma alternativa que o consumidor adota nesses momentos é trocar por presentes mais simples. Não por acaso a gente está projetando uma queda bastante acentuada no segmento de móveis e eletrodomésticos, eletrônicos, que têm um produto mais caro.”
Segundo a CNC, as roupas e os calçados continuam sendo o principal objetivo de compras para o dia dos namorados, com 77% dos consumidores apontando que pretendem presentear com esse tipo de produto. Enquanto isso, produtos como celulares e smartphones são a preferência de só 6%.
“Todos os segmentos vão registrar queda nas vendas, com o poder de consumo das pessoas reduzido”, afirma Bentes, destacando que o segmento de roupas e calçados deve ter mais procura pelos produtos com preço menor. “O número de compras não caiu tanto, o que caiu foi o valor médio de cada compra.”
Juliane também conta que gostaria de presentear Bruno com um presente especial se os preços não estivessem tão altos, com “uma roupa bacana ou perfume importado”, mas teve que adaptar a escolha ao orçamento. “Decidi fazer uma almofada com nossas fotos estampadas que custará apenas R$ 20. Quem vai fazer é minha prima, que é designer, e isso ajudou ainda mais no preço.”
Previsão de queda para o comércio
As previsões para as vendas do comércio neste dia dos namorados não são otimistas. A Boa Vista SCPC divulgou pesquisa apontando que 56% dos entrevistados planejam presentear na data, queda acentuada em comparação aos 92% do ano passado.
Outro estudo, feito pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), estima que a redução dos gastos com presentes neste ano deverá ser de 16,84%. Já a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) aponta que o volume de vendas do comércio varejistas do país deve registrar queda de 8,5%.
Valor sentimental
Em meio aos acordos para não gastar muito no dia dos namorados, Priscila reclama da “pressão” por presentear em datas comemorativas. “Talvez a sociedade coloque uma pressão maior, sempre me perguntam ‘o que ele te deu?’, como se fosse uma obrigação ter presente nessa data”, afirma. “Não considero um dia muito importante. Acredito que temos que estar bem todos dias e nos presentear em dias aleatórios. E sem se prender a datas comemorativas, até porque os preços sobem nessas épocas.”
Já Juliane diz que fica “chateada” por não poder presentear Bruno, mas acaba “aceitando a situação”. “Entendemos o momento que estamos passando. Mas não importa os momentos de dificuldades que podemos ter, meu amor por ele é cada dia maior. ”