Motivo de queixas dos produtores no início do ano passado, o crédito para a formação de lavouras parece que voltou a fluir em 2016. Dados do Banco Central (BC) mostram que, de janeiro a maio deste ano, o volume contratado para custeio no país chegou a R$ 16,3 bilhões, 71% acima do mesmo período do ano passado. No Rio Grande do Sul, o valor cresceu 60% e chegou a R$ 1,9 bilhão. Apesar da reação, o ritmo permanece abaixo do patamar de 2014, quando o valor no Estado alcançou R$ 2,22 bilhões.
A volta dos recursos é atribuída principalmente ao retorno da oferta do chamado custeio antecipado, que no ano passado não foi disponibilizado pelo sistema financeiro. A modalidade geralmente é utilizada por agricultores para a compra antecipada de insumos ainda no primeiro semestre para a próxima safra de verão. Por ser um período de demanda menor, normalmente insumos como sementes, fertilizantes e sementes estão mais baratos na comparação com a época que antecede a preparação das lavouras, na primavera.
Como o país atravessa um período de alta de juro, as condições também costumam ser mais vantajosas em comparação ao crédito ofertado no segundo semestre, quando começa a valer um novo plano safra. Voltado para os médios produtores, o Pronamp, por exemplo, tem juro de 7,75% até 30 de junho juro. Depois, com o novo plano safra em vigor, passará para 8,5%. Nas demais linhas, o reajuste das taxas também será de 0,75 ponto percentual.
Principal fonte de crédito da agricultura e responsável por cerca de dois terços do custeio agrícola do Rio Grande do Sul, o Banco do Brasil (BB) não teve recursos para a modalidade antecipada no ano passado, lembra João Paulo Comerlato, gerente de Mercado Agronegócio.
A maior disponibilidade orçamentária este ano é resultado do melhor desempenho na captação e pela alteração em regras do sistema financeiro que permitiram destinar mais recursos ao crédito rural.
— Estamos fazendo campanha em nossas agências com foco no milho, soja e arroz, para que o produtor possa pegar o recursos agora e se organizar melhor — diz.
Contratação maior nas culturas de verão
As estatísticas do BC confirmam uma contratação bem maior para as duas principais culturas de verão no Estado. Nos cinco primeiros meses de 2016, foram firmados R$ 574 milhões para o custeio antecipado da soja no Estado, ante apenas R$ 40 milhões no mesmo intervalo do ano passado. Para o arroz, foram R$ 342 milhões, montante mais de oito vezes superior ao período de janeiro a maio de 2015.
Para o trigo, agora em fase de plantio, acontece o contrário. Com expectativa de queda na ára cultivada no Rio Grande do Sul após duas safras frustradas por problemas climáticos, os agricultores tomaram R$ 664 milhões para o custeio da principal cultura de inverno, 23% abaixo de 2015.
O presidente da Comissão de Crédito Rural da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Elmar Konrad, constata que, apesar de o setor primário ser um dos poucos com desempenho positivo em meio à recessão atravessada pelo país, também acabou vitimado pelo enxugamento do crédito ano passado, quando a crise começou a ficar mais aguda. Com maior percepção de risco, os bancos elevaram os níveis de exigência para liberar os recursos, levando a atrasos ou recusas na concessão de crédito, causando preocupação também para o setor de insumos. O quadro forçou os produtores a usarem mais recursos próprios ou outras fontes de financiamento para a formação das lavouras. A situação, avalia Konrad, parece ser um pouco diferente agora:
— A antecipação de recursos pelo pré-custeio está melhor. A liberação parece que será significativamente maior — avalia Konrad, que também ressalta a vantagem de o produtor tomar recursos a taxas menores em relação ao segundo semestre.
O presidente da Associação dos Produtores de Soja do Rio Grande do Sul (Aprosoja-RS), Décio Teixeira, tem visão diferente. Diz ainda notar restrição ao crédito nos bancos e até receio dos agricultores em tomar recursos devido à alta do juro.
Os dados do BC, no entanto, indicam que, apesar de o volume financeiro ser maior, o número de contratos não cresceu de janeiro a maio. No país, permaneceram na casa dos 142 mil. No Estado, caíram de 35,1 mil para 27,7 mil.
Agilidade maior este ano
Apesar de ter conseguido crédito para o pré-custeio ano passado, o produtor Jair Dutra Rodrigues, que planta 550 hectares em Pontão, na região do Planalto, não teve a liberação dos recursos de forma tão antecipada assim. As informações que recebia eram de que a operação estava aprovada, mas o dinheiro saiu apenas em agosto. Assim, teve de recorrer ao capital próprio para adquirir fertilizantes e defensivos ainda em junho.
— Pelo jeito este ano não haverá problema. O gerente de conta avisou que nos próximos dias serei chamado para assinar. Conversei com outros produtores e ninguém reclamou. Ano passado muita gente não conseguiu - diz Rodrigues, que costuma financiar 50% da extensão que planta, para ter garantia do seguro, e formar o restante da área com recursos próprios.
Banco do Brasil projeta emprestar R$ 1,5 bi no RS
Após deixar de disponibilizar recursos para o custeio antecipado em 2015, o Banco do Brasil (BB) iniciou 2016 com a oferta de R$ 10 bilhões para emprestar até o final do primeiro semestre, sendo R$ 2 bilhões para os produtores gaúchos. Até o final da semana passada, cerca de R$ 9 bilhões já haviam sido liberados ou estavam em fase de contratação em todo o país. No Rio Grande do Sul, chegava a R$ 1,3 bilhão e a expectativa é chegar a R$ 1,5 bilhão no encerramento de junho, diz João Paulo Comerlato, gerente de Mercado Agronegócio do BB no Estado.
Para ele, a demanda pelos recursos no Estado não será maior devido a problemas como o excesso de chuva que causou perdas em lavouras de soja e arroz na Metade Sul. Com isso, agricultores ainda estariam em fase de contabilização da quebra para acionar o seguro agrícola. Em outros casos, diz Comerlato, produtores optaram pelo instrumento de Empréstimos do Governo Federal (EGF) para comercialização da safra e devem tomar custeio no segundo semestre.