Afetadas pela crise e pela alta do dólar e do euro, as agências de turismo de Caxias do Sul enfrentam um dos piores anos de vendas de pacotes às vésperas das férias de julho. Em comparação ao inverno passado, a queda chega a 35%, segundo pesquisa feita pelo Pioneiro. Não é por falta de interesse dos clientes. O problema é que eles estão restringindo as viagens para o verão, se a economia der sinais de recuperação.
A alternativa buscada pelas agências, então, é olhar para dentro do país e oferecer lugares mais baratos, que até pouco tempo eram conhecidos somente por aventureiros. Com isso, destinos tradicionais dos brasileiros para a época de inverno, como a Disney, nos Estados Unidos, e Bariloche, na Argentina, são substituídos por Alagoas, Tocantins, Espírito Santo, Sergipe, Mato Grosso do Sul e Goiás, entre outros. Internacionalmente, a preferência é por países que tenham moedas semelhantes ao real – Peru e Uruguai estão na moda.
– Até o frio de 2016 está diferente, o pessoal quer fugir dele. Resorts no Nordeste, com tudo incluso, são excelentes opções para quem busca calor e descanso. Notamos boa procura por João Pessoa (PB) e Aracaju (SE). A imagem do Rio São Francisco, na novela Velho Chico, da Rede Globo, favoreceu – diz a promotora de vendas da Saltur Queli Villar.
Outro reflexo da gangorra das cotações das moedas é a mudança de comportamento do turista. Em vez de programar a viagem com vários meses de antecedência, ele está deixando para a última hora, o que exige readequação do mercado.
– As companhias aéreas se obrigaram a adaptar o perfil e fazer promoções. Temos câmbio diferenciado todos os dias. Ninguém quer abrir mão do seu descanso – afirma Carina Gazzana, da CVC.
"Viajar é minha prioridade"
Para o consumidor, a crise pode até ser benéfica se ele tiver paciência e souber pesquisar. A Milletour, por exemplo, oferta desconto na segunda passagem para destinos no Brasil. Se o cliente não tem filhos na escola ou compromissos que o prenda a datas específicas, a empresa estimula um calendário alternativo com opções atraentes.
– Quem procura algo em conta, vai achar, especialmente fora das férias – salienta Fabiana Delanoy, da Milletour.
Uma das turistas a seguir a dica foi a servidora pública de Caxias do Sul Carolina Dorneles Pisani, 31 anos. Ela considera que viajar é uma das prioridades da sua vida e, mesmo com o momento ruim da economia do país, resolveu investir seu dinheiro em turismo indo para o Peru.
Enquanto se preparava para conhecer o Vale Sagrado e Machu Picchu, uma das regiões mais bonitas e históricas da América Latina, em Cusco, ela conversou com o Pioneiro e sugeriu ser possível aproveitar as férias com organização, em locais distantes do circuito habitual. Para evitar o pagamento de juros elevados no cartão de crédito e manter o mesmo orçamento estimado antes do embarque, ela optou por levar dinheiro em espécie, o que reduziu gastos desnecessários.
– Deixo de fazer muita coisa no campo pessoal para conhecer novos lugares e ter novas experiências. Como as coisas estão caras no Brasil, temos de nos adaptar. Vinha pesquisando sobre o Peru e notei que era fantástico. A facilidade de um voo direto de cinco horas também pesou – relata Carolina.