No campo da tecnologia, os últimos anos foram dominados pelas telas pequenas. De navegação fácil e recheados de aplicativos para as mais diversas funcionalidades, os smartphones e os tablets se transformaram a um só tempo em ambiente de trabalho, centro comercial, agência bancária, aparelho de som, álbum de fotos, videogame e quase tudo mais que se possa imaginar. Nesse processo, também invadiram o espaço tradicionalmente ocupado pelos televisores.
De uns tempos para cá, no entanto, as telas grandes passaram a reagir. Cresceram no tamanho, renovaram-se na qualidade da imagem e se reinventaram nas funções, redefinindo o que se entende por televisor e prenunciando uma revolução ainda maior para os próximos anos. Se celulares e tablets viraram aparelhos de TV, os aparelhos de TV estão, cada vez mais, parecidos com tablets e celulares.
No atual cenário de retração no mercado, são as chamadas Smart TVs que passaram a atrair o interesse do brasileiro. Levando em conta todos os televisores de tela fina, foram vendidas, no primeiro trimestre de 2016, em comparação com igual período de 2015, 28% unidades a menos, conforme dados da consultoria GfK. Mas no segmento das TVs com acesso à internet houve aumento, de 6,4%. Hoje, as Smart TVs já correspondem a 50% das vendas no país. Em meados do ano passado, rondavam os 39%. Em 2014, os 22%.
Isso significa que milhões de brasileiros estão trazendo para dentro de casa um tipo de TV que coloca em questão quase tudo o que se entendeu por TV ao longo de décadas. Nos aparelhos mais modernos, não há fronteiras entre o que é TV aberta ou a cabo, streaming e dispositivos auxiliares, como o DVD ou o blu- ray. Tudo aparece no mesmo menu, na mesma tela, e pode ser comandado por um único controle remoto. Como nos smartphones, há centenas de aplicativos que podem ser baixados, desde os que transformam o televisor em um console de videogame até os que permitem monitorar câmeras de segurança ou assistir ao vivo à programação de alguma emissora do outro lado do mundo.
— Primeiro, os aplicativos revolucionaram o smartphone. São 3 milhões só no Android. Na Coreia do Sul, existe aplicativo até para matar mosquito, por meio de um ultrassom de alta potência. No futuro, isso deve acontecer também com a TV, que passou a ser um display no qual você acessa imagens que não são só das emissoras, mas de todas as origens — observa o consultor e jornalista especializado Ethevaldo Siqueira.
Recursos smart ainda são pouco explorados
Para que esse cenário se consolide, os fabricantes têm um desafio cabeludo: tornar a experiência de navegar pelos aplicativos e dentro deles em algo tão prático e intuitivo como a tela de toque de um smartphone. A experiência de quem tem uma Smart TV, hoje, está muito distante disso. Na maioria dos modelos presentes nos lares dos brasileiros, o comando é feito pelas teclas do controle remoto, o que significa ter de encarar uma penosa operação cata-milho em um teclado virtual toda vez que se quer pesquisar algum conteúdo. Essa é a razão para grande parte dos proprietários ainda fazer pouco uso dos recursos smart, limitando-se a explorar o YouTube e o Netflix. O próprio Siqueira, apesar das décadas de intimidade com tecnologias, sente-se pouco à vontade:
— Eu tenho aqui uma TV com todos os recursos de Smart TV, com todos os acessos a outras plataformas, de jogos, de comércio eletrônico, de tudo. Mas diante do televisor, tenho um comportamento passivo, como as pessoas em geral. Só 5% dos proprietários aproveitam os recursos. Eles ainda não têm a resposta esperada de uma mídia interativa, inteligente, smart, como se pretende.
Por causa dessas dificuldades, os fabricantes têm despejado recursos no desenvolvimento de tecnologias que facilitem a navegação, em uma corrida acelerada para ver quem oferece antes a melhor solução. Thiago Prado de Campos, professor da especialização em desenvolvimento web da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, afirma que o momento é de experimentações:
— As pessoas se acostumaram com a ideia de que a TV é um equipamento prático. Você liga e não precisa fazer mais nada. Já está lá o último canal que você assistiu, que normalmente é o seu favorito. Você só aperta um ou dois botões e troca de canal. Para fazer com que as pessoas usem outros recursos, eles têm de estar acessíveis de forma prática também. Se tiver de clicar em muitos lugares, digitar em muitas coisas, a pessoa perde o interesse. Essa é a dificuldade das Smart TVs. A navegabilidade incomoda por causa da interface. Os fabricantes estão investindo em diferentes soluções, para ver qual agrada.
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