Os custos com transporte são o principal entrave apontado por exportadores brasileiros, de acordo com pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) com 847 empresários de todo o País. Além dos já conhecidos problemas, como condições das estradas, preços de pedágios, filas nos portos e ausência de ferrovias e hidrovias, o empresariado apresentou, como segundo principal entrave, as tarifas cobradas por portos e aeroportos.
A Universal Leaf, com sede em Santa Cruz do Sul, a 153 quilômetros de Porto Alegre, exporta cerca de 90% da sua produção de tabaco beneficiado. Os principais destinos são Europa (43%) e Extremo Oriente (25%), segundo Valmor Thesing, diretor administrativo da empresa. Aproximadamente R$ 800 mil são gastos por mês para transportar 8 mil toneladas de tabaco em 400 contêineres até o porto do Rio Grande, no Sul do Litoral gaúcho, em uma viagem de 350 quilômetros, que leva sete horas.
No porto - o único de grande porte do Estado -, o exportador paga taxas para inspeção e embarque da carga. A logística ficou mais cara em 2014, quando uma portaria da Receita Federal determinou que todos os contêineres do porto do Rio Grande fossem escaneados para inspeção. Até então, o processo era feito de modo aleatório, e só uma parte - que variava de acordo com o produto - desses carregamentos era aberta pela alfândega.
"No sistema anterior, nós nem contabilizávamos o custo com a inspeção, porque acontecia pouquíssimas vezes", afirma Thesing. Com a mudança, os exportadores passaram a pagar em média R$ 200,00 por contêiner escaneado. No caso da Universal Leaf, isso representa custo extra de R$ 76 mil por mês, quase R$ 1 milhão por ano.
"Para um segmento que tinha um custo de R$ 500 mil para exportar por ano, isso passou para R$ 4 milhões. E, nos estados vizinhos, como Santa Catarina, não existe essa exigência", diz Carlos Sehn, assessor do Sinditabaco, que reúne indústrias do setor. Paulo Bertinetti, presidente do Tecon - empresa que administra o terminal de cargas do porto do Rio Grande -, afirma que a mudança é uma modernização que acelera o processo de inspeção, aumenta a segurança e a transparência com os custos. Ele não revela a receita obtida com as taxas, que fica com o Tecon, e diz que o fato de ser o único terminal é uma "solidão por competência".
Segundo o diretor da CNI José Abijaodi, a entidade passou a receber queixas constantes de industriais em razão do custo do novo procedimento de inspeção. "Se houvesse maior concorrência no setor, o custo baixaria", diz.
Dos 10 principais entraves citados pelos exportadores na pesquisa, seis têm origem na burocracia estatal para liberar as operações no exterior, como o excesso de leis, alterações frequentes de regras e o tempo para autorizar o despacho do produto. A pesquisa mostra ainda que a maioria (66,8%) dos empresários utiliza pouco ou não usa linhas de financiamento para exportação. E nove em cada 10 entrevistados informaram que não usam qualquer instrumento de garantia, como seguro ou pagamento antecipado, para se certificar de que receberá pela venda.