A produção de carne de frango deve cair 4% este ano. Veja a situação no oeste do Paraná.
O criador Velmir Francisco Valente nunca viu o aviário passar tanto tempo vazio. Ele é um produtor integrado - recebe as aves e a ração da cooperativa e fica responsável por engordar o frango. Ele entregou o último lote para abate há nove dias. Agora ele está no chamado 'intervalo', esperando a cooperativa trazer os novos pintainhos, que já deveriam ter chegado. Como o consumo de frango caiu, a cooperativa aumentou o intervalo entre a entrega de um lote de frango e a chegada de outro, para compensar. "Era de sete a oito dias que você alojava. Hoje, 11 a 12 dias, depende de como é que vai o mercado. E esses dias que você perde hoje, no ano vai dar 18 dias. Então você vai perder meio lote de frango", afirma Velmir.
Meio lote para quatro galpões como os do Velmir, com capacidade para abrigar 15 mil frangos cada, significa um prejuízo de quase R$ 40 mil por ano para o produtor. "E quanto mais aumenta [o intervalo], pior fica para o produtor", diz ele.
O resultado no campo é reflexo do que está acontecendo na outra ponta dessa cadeia. A carne de frango, que teve um ótimo desempenho no mercado interno nos últimos anos, vive o seu momento de crise. Uma pesquisa da Associação Brasileira de Proteína Animal mostrou que o brasileiro tá comendo menos frango. No ano passado cada pessoa consumiu, em média, 43 quilos da carne. A estimativa é para que em 2016 esse número caia para 41 quilos. O que também afetou o setor, como explica o presidente da Associação dos Avicultores do Oeste do Paraná (AAVIOPAR), Luiz Ari Beranart, foi o custo da produção - a ração de milho chegou a dobrar o preço. "A alta que teve o milho, a alta que teve a soja, e agora o câmbio baixou muito. E esse câmbio tá afetando na lucratividade que as empresas teriam para manter a atividade. E com isso, eles estão transferindo isso para o produtor", afirma Luiz.
Na cooperativa da cidade de Cascavel, uma das maiores produtoras de frango do Paraná, o ritmo de produção desacelerou. Gente parada, esteiras vazias. O abate diário de aves diminuiu de 245 mil para 225 mil. O presidente da COOPAVEL, Dilvo Grolli. atribui a queda no consumo à crise econômica do país: "Nós temos no Brasil uma recessão e, com isso, diminui o consumo de carne de frango. E nós temos uma oferta muito grande de carne de frango, temos uma disponibilidade de carne que o mercado não tá absorvendo".
Mesmo com o real mais valorizado, o setor acredita que as exportações em alta vão ajudar a equilibrar as contas. As vendas para o mercado externo devem crescer 5% neste ano.