Durante três anos, 1,2 mil famílias de agricultores de oito municípios da região participaram da Chamada Pública da Sustentabilidade, programa da Emater/RS-Ascar que entra em fase de conclusão. Para marcar o encerramento da iniciativa, os envolvidos com a projeto se reúnem nesta quinta-feira em Flores da Cunha, em um grande Dia de Campo. O encontro visa divulgar tecnologias e processos mais eficientes para a produção agrícola, o que é basicamente uma síntese do trabalho que vem sendo realizado nos últimos anos.
A propriedade da família Pagno, que é uma das beneficiadas com o projeto, é o palco do Dia de Campo. A área conta com produção de uva, tomate, cebola, pimentão e repolho distribuídos em cerca de 10 hectares.
— A Chamada Pública foi muito interessante para a gente. Além da orientação técnica da Emater, podemos trocar muitas experiências entre as famílias participantes, o que é muito válido — conta Ricardo Pagno, 43 anos.
Um dos temas que será abordado nesta quinta-feira — e é praticado na propriedade de Pagno — é a conservação do solo na viticultura por meio do cultivo de plantas. A prática produz uma espécie de "cobertura" embaixo das parreiras, o que gera benefícios como conservação da umidade e a redução do uso de herbicidas na plantação.
— Essa técnica é uma quebra de paradigma porque culturalmente os produtores da região não eram adeptos a ela. Essas plantas no solo não competem com a parreira, porque sobrevivem apenas no inverno. Então, pegam nutrientes no período que a videira descansa. Com a cobertura no solo, a erosão é evitada e os custos da produção diminuem — ensina Enio Todeschini, engenheiro agrônomo da Emater/RS-Ascar.
A pulverização eletrostática é outro assunto que terá destaque hoje. Por meio da pulverização convencional, relata Todeschini, há uma perda de 60% das gotas que saem dos bicos, seja por deriva ou evaporação. Já na eletrostática, não há desperdício.
Apesar da Chamada Pública da Sustentabilidade estar no fim, a Emater/RS-Ascar ressalta que as famílias envolvidas continuarão sendo assistidas pela entidade dentro de outros programas contínuos. Antônio Prado, Bento Gonçalves, Ipê, Nova Roma do Sul, Nova Pádua, Caxias do Sul, Farroupilha e Flores da Cunha são os municípios que contaram com participantes na iniciativa.
Produtores temem geada
Além de compartilhar conhecimentos sobre sustentabilidade nas lavouras, os agricultores que se reúnem nesta quinta-feira em Flores da Cunha também dividem uma torcida: que as mudanças climáticas desta semana não comprometam a produção.
O temor ganha força, principalmente, porque os prejuízos da última safra de uva ainda estão bem vivos na memória dos produtores. Nessa mesma época, em 2015, uma forte geada atingiu a região e gerou perdas expressivas na maioria das propriedades:
— Aqui no nosso caso, perdemos 80% da produção de uva na última safra. Nesse ano, até agora, o tempo tem ajudado bastante. Como teve muito frio durante o inverno, a brotação está ocorrendo de forma bem uniforme. Uma geada agora seria lamentável — avalia o produtor Ricardo Pagno.
O vento gelado e intenso, chamado de "geada negra", é outro inimigo dos produtores. Enio Todeschini, engenheiro agrônomo da Emater/RS-Ascar, explica que esse tipo de intempérie desidrata as plantações.
— Toda a fruticultura será prejudicada se ocorrer geadas agora: parreiras, macieiras, figueiras, pessegueiras, ameixeiras, caqueiros... Até 20 de setembro, o produtor vive essa apreensão. A partir daí, muito dificilmente o frio intenso aparecerá — analisa Todeschini.