A elaboração de um sistema nacional de classificação de carcaças está em discussão na Comissão de Bovinocultura de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Independentemente da raça do animal abatido, serão considerados peso, idade, gordura e sexo. Uma proposta será formalizada até o final do ano junto à Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Carne Bovina do Ministério da Agricultura.
Segundo o veterinário Juliano Hoffmann, coordenador de Produção Animal da CNA, a iniciativa proporcionará melhor remuneração, tanto à indústria quanto ao produtor. A separação obedece três escalas.
— Hoje, sendo ótimo, bom ou ruim o valor pago é fixo _ destaca o técnico.
A adesão será voluntária. Atualmente, 1,7% dos animais abatidos no país são classificados. Em 2015, das 35 milhões de cabeças abatidas, só 600 mil cabeças foram certificadas. Segundo Hoffmann, países como Estados Unidos e Rússia são mercados em potencial pois pagam melhor por estes produtos.
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De acordo com o gerente do Programa Carne Angus Certificada, Fábio Medeiros, que ajudou a elaborar o projeto, o objetivo é estabelecer critérios de avaliação:
— A padronização da tipificação de carcaças é um procedimento importante para construir a melhora na qualidade da carne e valorizar os melhores animais.
Já está definido que a indústria será responsável por esta verificação. Entretanto, ainda estão em debate como estes parâmetros serão aplicados para que os produtores tenham segurança de que a carcaça foi classificada corretamente.
Presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Péricles Salazar considera que o projeto ainda está prematuro. Mas ressalva:
— Tudo que é bom para a cadeia produtiva, devemos fazer.
Raças são precursoras
O modelo foi baseado em protocolos de certificação já existentes, criados há mais de uma década pela Associação Brasileira de Angus e Associação dos Criadores de Nelore do Brasil. Mas, somente em 2015 foram reconhecidos pelo governo, por meio da Plataforma de Gestão Agropecuária do Ministério da Agricultura, que delegou a gestão dos protocolos à CNA.
As raças hereford, braford, charolês e wagyu também instituíram programas de certificação. Limousin, simental e devon formalizaram, na Expointer, protocolo de intenções para participar do projeto.
— É notório que as raças que trabalham com a certificação estão tendo êxito em seus programas — diz o presidente da Federação Brasileira das Associações de Criadores de Animais de Raça (Febrac), Eduardo Finco.
Certificação atende a mercados exigentes
A angus é uma das precursoras na classificação de carcaças. Cerca de 5 mil produtores de nove Estados — PA, MT, MS, GO, MG, SP, PR, SC e RS — integram o Programa Carne Angus Certificada. Em 2015, a raça abateu 400 mil animais em 27 unidades no Brasil, sendo cinco no Rio Grande do Sul. O produto premiumé destinado ao mercado interno e exportado para Holanda, Suíça e Alemanha, além de Arábia Saudita, Líbano e Emirados Árabes.
— Nossa meta para este ano são 500 mil cabeças e pretendemos chegar a 1 milhão de animais por ano em 2020 — projeta o gerente do programa, Fábio Medeiros.
Para a certificação, três parâmetros devem ser atendidos: o bovino deve ter no mínimo 50% de genética angus; os animais abatidos devem ser jovens — até 30 meses e boa deposição de gordura — mínimo de quatro milímetros na superfície da carcaça. Os produtores que seguem os critérios recebem até 16% de sobrepreço no valor do boi gordo. Para o consumidor, o incremento no preço da carne certificada varia de 20% a 30%.
No caso das raças hereford e braford, o animal deve ter até 36 meses e deposição de gordura mínima de três milímetros, além de 50% de genética. No ano passado, foram abatidos e certificados 41,68 mil animais das raças em sete unidades da região Sul, sendo cinco no Rio Grande do Sul. Os produtores que obedecem aos critérios recebem até 10% a mais por animal abatido.
— Quanto mais jovem e mais gordo o animal, melhor será a bonificação — explica Fabiana Freitas, gerente do Programa Carne Pampa da Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB), do qual fazem parte 3 mil produtores.
Atualmente, a entidade está em tratativas para exportar carne certificada para a China e países do Oriente Médio.
Vantagens da padronização:
- Remuneração adicional ao produtor
- Agregação de valor ao produto para a indústria
- Abertura de novos mercados para exportação
- Garantia de maior qualidade ao consumidor