A gigante do aço está mudando. Temas como inovação, mundo digital, colaboração e flexibilidade passaram a fazer parte do dia a dia da Gerdau. Em plena era da transformação digital, a empresa se aproxima do modelo de desenvolvimento de soluções de negócios das startups, em que os ciclos de criar, errar, corrigir e acertar são mais curtos. Tecnologias móveis, Big Data, Internet das Coisas (IoT) e drones passaram a fazer parte do dia a dia da operação nos últimos três anos. Mais do que isso, porém, a ideia é criar uma cultura em que todas as pessoas se comprometam a buscar as novidades. "Queremos centralizar apenas a estratégia, os valores e a marca da corporação. No resto, a meta é dar liberdade para as áreas irem atrás, descobrirem e aplicarem as inovações rapidamente", afirma o vice-presidente de Pessoas e Desenvolvimento Organizacional da Gerdau, Francisco Fortes.
Jornal do Comércio - Como uma empresa tradicional como a Gerdau está se preparando para não ser surpreendida pela transformação digital, que já está impactando negócios no mundo todo?
Francisco Fortes - O mundo digital pode representar uma ameaça ou uma oportunidade e só tem uma maneira de descobrir, que é começando a usar as novas tecnologias. Existe uma verdadeira evolução social acontecendo no mundo e as empresas precisam trazer isso para dentro delas. E é isso que estamos fazendo na Gerdau. Claro que se trata de uma companhia de grande porte e que esse não é um processo fácil, mas estamos avançando. Criamos um Comitê Digital no Brasil para estudar todas essas novidades e os resultados práticos já começam a aparecer. Começamos esse movimento para nos alinharmos ao mercado, mas no fundo estamos fazendo a Gerdau se atualizar e ficar diferente. A empresa ainda vai mudar muito, com mais liberdade e agilidade e menos hierarquia e controles. Essa é a transformação que estamos fazendo.
JC - Como as tecnologias tidas como pilares da evolução digital estão presentes no dia a dia da operação?
Fortes - Na área de Internet das Coisas (IoT), por exemplo, começamos a usar sensores em 50 equipamentos na unidade de Minas Gerais, que monitoram equipamentos críticos, aferindo dados do motor, temperatura e vibração. Quando as informações saem dos parâmetros estabelecidos, o software emite um alerta, ajudando a operação e prevenir falhas e economizar em manutenção. A meta é levar para 1 mil equipamentos em breve. Quando o assunto é mobilidade, deve entrar no ar em janeiro uma ferramenta similar ao WhatsApp, para facilitar a troca de informações entre os colaboradores. Não queremos eliminar o contato pessoal, mas acredito que isso vai estimular os feedbacks, que é algo que falta nas organizações. Também estamos usando Analytics na área de RH para fazer correlações dos dados dos nossos colaboradores e ver as taxas de retenção dos talentos e comparar como está a remuneração deles em relação ao mercado.
JC - Qual a estratégia de mobilização das pessoas para essa nova visão?
Fortes - Queremos estimular as pessoas para a inovação e a criatividade, o que envolve empoderá-las e prepará-las para isso. É um movimento de mudança e modernização que vem sendo feito mais fortemente nos últimos três anos, a partir de uma série de ações criamos o Usina Digital, em que os nossos profissionais são estimulados a experimentar tecnologias mobile, drones e diversos outros dispositivos. Esse projeto começou em São Paulo e estendemos para todas a usinas da Gerdau. Estamos contratando pessoas com expertise digital e treinamos diversos profissionais em metodologia de inovação e métodos ágeis, que está possibilitando testar as coisas, ver se dá certo, falhar rápido e recomeçar. É o método das startups. A área de Tecnologia da Informação (TI) deu o start, foi viral e começamos a usar em outras áreas. Formamos facilitadores para ajudar a disseminar esse conhecimento na empresa. Estamos mudando a cultura da empresa para ser mais aberta e inovadora e para dar mais poder às pessoas. Antes as decisões e ideias vinham de cima, agora todos participam, o que aumenta a agilidade.
JC - A colaboração interna já se refletiu em novas ideias para o dia a dia da operação?
Fortes - Sim, isso tem acontecido cada vez mais. Um exemplo claro é com o uso da ferramenta Yammer, da Microsoft, uma espécie de Facebook interno. O presidente da empresa, André Gerdau Johannpeter, começou a usar, eu fiz o mesmo e quando vimos já tínhamos 3 mil colaboradores conectados. Esse ambiente de colaboração está ajudando a fomentar novas ideias. Um profissional sugeriu a criação de um sistema mobile em que, ao passar na frente de uma obra com tapume, o funcionário da Gerdau pudesse tirar uma foto geolocalizada e enviar para a área de vendas prospectar se aquela obra já comprou aço e se é da Gerdau. Um diretor da área viu, se interessou pela ideia e, em três meses, o aplicativo estava disponível para qualquer funcionário usar. Esse é um exemplo muito claro de como estamos estruturando essa nova Gerdau, mais descentralizada e estimulando pessoas a criarem coisas novas.
JC - A aproximação com startups é uma estratégia para a empresa acelerar a inovação?
Fortes - Sim, com certeza essas parcerias são uma forma de acelerarmos os negócios. Estamos olhando atentamente essas jovens operações. Recentemente, realizamos um Hackathon em São Paulo. Durante dois dias, os jovens se dedicaram a criar soluções em TI para ajudar a Gerdau a vender mais, como um app para colocar informação estratégica nas mãos dos vendedores. Elegemos três projetos e vamos investir neles. Isso é inovação aberta.
JC - Qual deve ser o papel da área de TI das empresas nesse processo de transformação digital?
Fortes - A TI tem que ser área que conhece as soluções e traz elas para a empresa, para que todos saibam que existe e como podem ser aplicadas. Mas, os profissionais de todas as áreas de negócios é que têm que estar atentos para as oportunidades para investir nisso. Em muitos dos projetos digitais que estão realizados na Gerdau o budget não é da TI. Se uma área de negócio quer implantar algo para melhorar a operação, precisa investir nisso.
JC - A realidade virtual também já está presente no treinamento das pessoas. Como está sendo essa experiência?
Fortes - A unidade de Charqueadas liderou a iniciativa de uso da gamificação e dos óculos de realidade virtual para fazer treinamento na área de segurança (o objetivo foi modernizar os treinamentos da certificação obrigatória de Análise Preliminar de Riscos). Até então, isso acontecia em uma sala, com aulas teóricas. Só depois os colaboradores iam para a prática - sendo que nem sempre é possível conseguir treinar as pessoas com calma no ambiente de produção. Então, a unidade de Charqueadas digitalizou todo ambiente de trabalho da Caldearia, colocando para dentro do software todos os dados. Agora temos um sistema interativo, que permite às pessoas irem vivenciando as situações que podem acontecer por meio da realidade virtual e, conforme evoluem, vão passando de fase. Eles podem repetir quantas vezes for necessário. É um sistema muito interessante porque, muitas vezes, até mesmo o treinamento pode ser arriscado, então, fazer isso em um ambiente controlado, aumenta segurança das pessoas. A ideia é levar a gamificação para as outras unidades, mas não é algo que vamos determinar que seja feito. Dentro dessa nova postura da Gerdau, a nossa expectativa que as áreas conheçam e sejam proativas para implantar.